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Alguns mezes depois das chuvas, quando julgam as agoas escoadas, muitos embarcam em suas canoas, levando farinha para alguns mezes ou seis semanas, e assim vão costeando a terra á um lugar distante da Ilha 40 ou mais legoas: ahi se arrancham, levantam choupanas, e depois dedicam-se a pescaria, a caça dos crocodillos, e á procura das tartarugas.

Ahi se reunem muitos selvagens de diversas aldeias da Ilha, de Tapuitapera, e de Comã.

Apanham-se os peixes nas pôças, ou buracos de areia com pouca agoa, e quando se vae um pouco mais tarde, coagido pela estação, encontram-se essas pôças seccas e o peixe morto.

Sendo impossivel dizer-se o numero ou a quantidade d’estes peixes, faço porem comprehendel-a asseverando, que chega para carregar todos os selvagens, e ainda fica muitissimo. São grossos e curtos, não excedem porem a grossura e expessura de um braço, tem de comprimento meio pé entre a cauda e a cabeça, o focinho achatado e muito similhante ao do tenca, e parecem-se muito com os peixes maritimos chamados marujos pintados.

Apanhados nas redes, que levam, chamadas pussars, seguram-nas pelo meio dose a dose, lançam-nos com entranhas e tudo ao fumeiro para assal-os, e assim ajuntam muitos, que levam para suas casas, e com esta comida sustentam-se um ou dois mezes. Quando querem comer, tiram a pelle do peixe, seccam-na ao sol, pisam-na em um almofariz, reduzem-na á pó, com que fazem seos mingaus, isto é, suas bebidas, como fazem os turcos com o pó dos quartos de boi cozidos ao forno quando vão para a guerra.

Dirigindo-me um dia para a Ilha, achei-me em certa aldeia, onde nada tendo que dar-me para jantar, ferveram alguns d’estes peixes n’uma panella, do caldo fizeram mingau, vindo o resto no prato.

Bem contra minha vontade de nada me servi por causa do mau gosto da fumaça, porem com muito apetite comeram