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quando a encontram, e por isso empregam-se muito em caçal-os.

O logar Piry, humido e cheio de limo, tem muitos jacarés, que são perseguidos pelos selvagens por meio de flechas, atiradas com direcção á garganta ou á barriga, e depois acabam-nos com uma barra de ferro, escamam-nos, e cortam-nos em pedaços, que assam.

Si são pequenos, cozinham-nos com escamas, e assim preparados acham-nos muito bons e até delicados, porque assados com sua gordura, dizem elles, nada perdem de sua substancia.

Achei melhor crer do que experimentar, embora tivesse muitas occasiões de o fazer, visto que recebi muitos presentes d’elles quando voltaram os selvagens do Piry.

A recordação somente d’estes animaes me fazia nauseas até o coração, á vista d’esses pedaços.

Diziam os francezes, que o comeram, ser similhante a carne fresca de porco, um pouco mais adocicada, oleosa, e com o cheiro de almiscar.

He muito perigoso tomar-se banho n’esse paiz, a não ser em logar descoberto, porque estes despresiveis animaes se arrastam de mansinho e se atiram sobre vós.

Contaram-me, que um menino, da aldeia de Rasaiup, cahindo n’um riacho, onde hia buscar agoa, foi agarrado e devorado pelos jacarés.

Quando andei pelas costas do mar, desde Trou até Rasaiup, em companhia de muitos selvagens, elles me levaram para beber agoa n’uma grota cheia de sarças e outras mattas, e me advirtiram, que ahi ninguem se podia demorar muito por ser o escondrijo dos jacarés.

Fazem-lhes muita guerra os nossos selvagens, por gosto e utilidade, e trazem grande provisão d’elles quando voltam do Piry.

A razão de não terem lingua, estes animaes é porque segundo creio, tem a garganta e o pescoço, inteiramente inflexiveis, a ponto de não poderem olhar nem para traz nem