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casa, reunem-se todos os habitantes, uns com arcos, e outros com flechas e paus, e com o auxilio tambem de alguns cães não escapa o pobre rato.

Depois de morto é espetado na ponta de uma vara, fincada no meio da aldeia, para servir de alvo ao exercicio das flexas dos meninos.

As aldeias mais proximas dos portos, onde chegam navios, tem mais ratos, porque apenas sentem a terra, atiram-se as ondas, nadam, trocando assim o seo paiz natal, que é o mar, para ficar n’um paiz mais firme e seguro, que é a terra.

Comem os ratos selvagens, que vivem nos bosques e no dizer d’elles é comida deliciosa.

Caçam-nos assim: cavam um buraco no meio de um certo lugar no matto, fazem varias entradas, similhantes ás coelheiras, ou terreiros de coelhos: reunem-se depois muitos sujeitos, armados de paus, e vão fazer grande alarido ao redor d’esse fosso, como se costuma fazer nas caçadas dos lobos.

Batem as mattas, e d’ellas fazem sahir os ratos, e elles fugindo, e encontrando esses buracos tão proprios para se occultarem, ahi entram, e então aproximando-se os selvagens, toma cada um conta do seo buraco, e entrando outros dentro do fosso, á cacete matam os ratos, dividem-nos igualmente, e regressam para a aldeia trazendo cada um o que lhe tocou.

Assam os ratos ao fumeiro ou sobre carvões, abrem-nos por diante sem lhes tirar a pelle, a qual fazem tostar depois que o animal está cozido por dentro, para não perder a gordura, e depois os guardam dentro de uma porção de farinha.

São estes ratos assim preparados, guardadas as proporções, mais apreciados do que os javalys e os viados, e as vezes trazem os selvagens quantidade incrivel d’elles.

Caçam as formigas em tempo de chuva, por ser a epocha propria d’ellas mudarem de habitação.