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Tinham aberto dois caminhos, muito bons para o seo tamanho: por um iam as carregadas, e por outro as desembaraçadas, evitando assim a confusão e a mistura, embora fossem mais de quatrocentas as carregadeiras. O mesmo fazem as outras especies de formigas.

É para admirar-se tambem a especie de abobadas, que com admiravel industria fazem quando querem caminhar abrigadas.

Caçam os selvagens somente as formigas grossas como o dedo pollegar, para o que aballa-se uma aldeia inteira de homens, mulheres, rapazes e raparigas.

A primeira vez que vi esta caçada, não sabia o que era, e nem onde hia tão apressada tanta gente deixando suas casas para correr após as formigas voadoras, as quaes agarram mettem-nas n’uma cabaça, tiram-lhes as azas para frital-as e comel-as.

Caçam-nas tambem por outra maneira, e são as raparigas e as mulheres que, sentando-se na bocca da caverna, convidam-nas a sahir[NCH 70] por meio de uma pequena cantoria, assim traduzida pelo meo interprete.

«Vinde, minha amiga, vinde vêr a mulher formosa, ella vos dará avelans.»

Repetiam isto á medida que iam sahindo, e que iam sendo agarradas, tirando-se-lhes as azas e os pés.

Quando eram duas as mulheres, cantava uma e depois outra, e as formigas que então sahiam, eram da cantora.

Causa admiração vendo-se os grandes pedaços de terra, que tiram de suas cavernas.

No tempo das chuvas tapam os buracos do lado das enchurradas, e deixam somente aquelles, por onde pode vir a chuva raras vezes.

As formigas do Maranhão tem dois inimigos encarniçados, especialmente estas alladas: um — certa especie de cães selvagens,[NCH 71] com pello de lobo, fedorentos o mais que é possivel, focinho e lingua muito aguda, e que procura o formigueiro para alimentar-se: outro, uma qualidade de formigas