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Ahi tinham depositado seos ovos com seos filhinhos, e ninguem se atrevia a passar por perto.

Vão caçar cabritos-montezes, matam-nos, espedaçam-nos com unhas e bicos, e depois trazem alguns boccados a seos filhos.

Pescam da mesma fórma arremeçando-se sobre os golphinhos, pirapamas, e trombudos, e tiram-no do mar com suas garras, deitam-nos em terra, dividem-nos em pedaços, que levam a seos filhos.

Vão ainda mais longe: mataram um homem e uma mulher Tupinambás, o que lhes causou a sua morte e a do seos filhos, porque si lhes armou uma cilada tão bem arranjada, que conseguio-se matar o macho, e a femea achando-se viuva retirou-se para a terra firme abandonando seos filhinhos, que foram passados pelas armas dos Tupinambás em vingança do crime commettido na pessoa dos dois, que elles mataram, e destruio-se-lhes o ninho.

A femea é maior que o macho, ambos de côr parda, olhar vivo e feroz, poupa forte e irriçada no cume da cabeça, pennas grossas no canudo e grandes como a de um gallo da India: servem-se d’ellas os Tupinambás para emplumar suas flexas.

Nota-se n’estas pennas uma coisa particular e especial: si os selvagens as misturam com outras pennas, como sejam de araras, e de outros passaros grandes, são estas roidas e comidas por aquellas, pelo que são guardadas a parte, e com outras não as deitam em suas flexas.

Por maiores, que sejam os outros passaros, é a Aguia o Senhor e o Rei não por igualdade de forças, mas por subtileza e ligeireza de vôo, subindo muito alto quando quer perseguir os passaros grandes, e descendo mui rasteiramente quando elles tambem descem, e quebram-lhes a cabeça com o bico.

Ficam assustados todos os passaros quando ouvem o seo grito, calam-se e occultam-se entre folhas.