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Ha outras especies de passaros grandes, porem que não se comparam com estes, e são as araras, os canindés, e outros, os quaes são agarrados pelos indios por maneira astuciosa.

Vão ao matto, escolhem as arvores, onde costumam estes passaros passar a noite, e onde se recolhem depois de comer: fazem debaixo d’essas arvores uma casinha redonda, com capacidade para conter tres homens, e coberta de palhas: ahi se recolhem e esperam a vinda dos passaros, que como não desconfiam, aproximam-se muito, e então os selvagens lhes atiram qualquer projectil, que os atordoa sem matal-os, cahem em terra onde são facilmente agarrados e prendem, e com o correr do tempo de tal maneira se domesticam, que embora os soltem, não deixam a casa do seo dono: introduzem-se pelos quartos, fazem grande matinada, com voz similhante a do côrvo, aprendem a fallar como os papagaios, e dão suas pennas á seos hospedes para com ellas se adornarem e enfeitarem.[NCH 81]

Os habitantes do rio depennam seos gansos para encher colchões, e os indios tiram as pennas d’estes passaros para fazer seos enfeites e adornos.

Ha muitas e diversas qualidades de garças, umas maiores, e outras mais pequenas.

Fazem seos ninhos nos mangues á beira do mar, vivem de peixe, e trazem alguns inteiros a seos filhos que principiam a comel-os desde os seos primeiros dias.

Admirei-me de ter sido encontrado um peixe grande, do tamanho de um arenque, no ventre de uma garça, pouca implumada.

Os selvagens vão tirar dos ninhos as garçasinhas, armados de bons cacetes para se defenderem dos paes e mães, que em tal caso não deixam de acudir aos que nutrem tão terna e cuidadosamente afim de estenderem a especie.

Similhantes as garças ha outros passaros chamados forquilhas pelos francezes e portuguezes, porque teem a cauda fendida quando vôãm: fazem seos ninhos nos mangues, em