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isto incrivel abundancia, tendo apenas o trabalho de colher e plantar os vegetaes.

Enganar-se-hia porem quem pensasse, que as arvores produzissem patinhos assados, as corças, quartos de carneiro, recentemente tirados do espeto, e o ar andorinhas bem cozidas, de fórma que não havia mais trabalho do que abrir a bocca e comer.

Com tal fantasia, não lhe aconselho, que lá vá, porque arrepender-se-hia.

É pois esta terra habitavel pelos francezes, e si ahi não tiverem commodidades, arrepender-se-hão, porem tarde.

2.ª Eis o que disse, e basta[NCH 82] a terra é habitavel, e pode ahi morar-se com algum encommodo durante alguns annos. Mas será saudavel para os francezes? Os indios ahi são sadios, e vivem longo tempo, embora selvagens e barbaros, nascidos n’este clima, e acostumados á tal temperatura. Não tem os francezes tal privilegio, pois são sujeitos á muitas febres, que se terminam em paralysia e outros encommodos. Respondo a isto, que julgamos das substancias pelos accidentes, e das terras pelos encommodos e enfermidades.

Comparemos agora a menor aldeia de França com a Colonia Francesa n’estas terras, e no espaço de um anno achamos haver na aldeia dez vezes mais doentes do que em dois no Maranhão.

Si algumas pessoas se dão mal, não é novidade pois em toda a parte está a morte: assim são as molestias.

D’estes males não estão isentos Reis e Principes em paizes os mais agradaveis e salubres, que se possa imaginar.

Em dois annos, que lá estive, apenas houve uma morte a do Rvd. padre Ambrosio:[NCH 83] fallo da morte natural, porque os devorados pelos peixes, a culpa foi d’elles por se lançarem ao mar.

Morreu o Rvd. padre de uma paralysia, porque estando muito atado a derrubar arvores grandes, e tendo o suor molhado seo habito, foi assim mesmo celebrar missa, e