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ha muito tempo internados nas sarças e brenhas da ignorancia, da infidelidade, e dos maos costumes.

Nas casas grandes não se falla mais de outra coisa senão do conhecimento de Deos, contando cada um o que ouvio de nós quando veio visitar-nos, e terminando essas especies de conferencias pela manifestação do grande desejo, que tinham de vêr seos filhos baptisados e elles tambem, por meio d’estas e outras palavras similhantes.

Que coisas, diziam elles, são estas, que os Padres nos contam por meio dos interpretes? Nunca as ouvimos iguaes.

Nossos paes, ja por tradicção nos contaram, que outr’ora veio aqui um grande Maratá de Tupan,[NCH 92] isto é, Apostolo de Deos nas provincias, onde residiam, e lhes ensinou muitas coisas de Deos: foi elle quem lhes mostrou a mandioca, as raizes para fazer pão, porque antes só comiam nossos paes raizes do matto.

Vendo este Maratá, que nossos antepassados não faziam caso do que dizia, resolveo deixal-os, mas antes quiz dar-lhes um testemunho de sua vinda aqui, esculpindo n’uma rocha uma especie de mesa, imagens, letras, á fórma de seos pés, e dos seos companheiros, as patas dos animaes, que trasiam, os furos dos cajados, a que se arrimavam em viagem, o que feito passaram o mar, procurando outra terra.

Reconhecendo nossos paes sua falta, procuraram-no muito, porem nunca d’elle tiveram noticias, e até hoje ainda não veio visitar-nos algum Maratá de Tupan.

Muito tempo ha, que frequentamos os francezes, e nenhum d’elles nos trouxe padres, e nem nos contou o que por seos interpretes nos dizem os padres.

Por exemplo fazem viver de maneira diversa os Caraibas.

Prohibem os francezes de tomarem nossas filhas, o que outr’ora faziam com facilidade, dando-nos em troca algumas mercadorias.