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Indios de outras terras, que todos os dias nos vinham vêr e conhecer, si era verdade o que de nós se dizia em longes terras.

Foi esta a divisão, que fizemos, de tantas e tão grandes terras para cultivar e lavrar o que permittissem nossas forças, cuidando um de uma parte e outro de outra, excepto quando houvesse necessidade de sahir da Ilha, porque então se tomariam providencias adequadas.

Impossivel é á palavra o pintar o contentamento e a alegria, que sentiamos vendo estes selvagens trazer-nos seos filhos, voluntaria e expontaneamente, para serem baptisados, preparando-os o melhor que podiam com os meios offerecidos pelos francezes, isto é, vestidos com um pedaço de panno de algodão, escolhendo padrinhos entre os francezes, contrahindo assim com elles estreita alliança, especialmente com os meninos baptisados, si estivessem em idade de o conhecerem, porque então considerariam seos padrinhos como seos proprios paes, chamando-lhes pelo nome de cheru, «meo pae» e sendo pelos francezes chamados os rapazes cheaire «meo filho,» e as meninas cheagire «minha filha»: vestiam-nos em summa o melhor, que podiam, e os selvagens, paes dos meninos baptisados, lhes offereciam todas as commodidades resultantes de suas roças, de suas pescarias, e caçadas.

Vendo assim estas cousas, lembrava-me do que diz o cap. 5º dos canticos. Oculi ejus sicut cólombæ super rivulos aquarum, quæ lactæ sunt lotæ, et resident juxta fluenta plenissima: «os olhos de Jesus Christo, esposo da Igreja, parecem-se com os olhos da pomba, orvalhada de leite, que contempla os regatos das fontes, e faz seo abrigo e morada nos rochedos, que abrangem rios amplos e espaçosos.»

Estes olhos de Jesus Christo são as graças do Espirito Santo, que fazem quebrar seos ovos á maneira das tartarugas, expostos á mercê das innundações do mar e da frialdade da areia.

Tem estes mesmos olhos por plano e fim lavar e purificar as almas, especialmente as almasinhas rociadas de leite. Assim