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como a pomba branca brinca sobre os riachos, e habita á margem dos grandes rios, assim tambem o Espirito Santo folga e muito na conversão de uma terra nova, e encara com bons olhos a sahida d’estas almasinhas do estado geral d’estas terras barbaras, a saber, da ignorancia de Deos para chegar a conhecel-o por meio das agoas do baptismo, partecipantes, como nós, da visão de Deos, porque não fazem accepção de ninguem, visto que estas almas barbaras lhe custaram tanto como as nossas.

Oh! preço infinito! oh! falta de caridade, que não tem desculpa perante Deos, de se verem tantas almas pedindo a salvação, sem embaraços e riscos, e em risco de se perderem por não haver um pequeno auxilio.

Bom Deos! todos nós acreditamos, e Jesus Christo confirma esta crença, que uma só alma valle mais que todo o resto do mundo, isto é, que todos os imperios, e reinados da terra, que todas as riquezas e thesouros do homem: mais ah! não temos difficuldade de pôr em execução nossas crenças.

Não posso deixar este assumpto sem primeiro declarar a luta interior, que experimentei, para fazer vêr e descarregar minha consciencia tanto quanto a julgo compromettida, parecendo-me bastante para minha justificação e defesa o que acabo de dizer.

Li e notei em bons auctores, profundos e perspicases no conhecimento dos segredos e mysterios da Escriptura, que as pombas brancas orvalhadas de leite eram certas pombas, que os Syrios creavam em honra e veneração de sua rainha Semiramis, sendo prohibido matal-as sob pena de morte.

Contam-nos os antigos ter-se esta rainha immortalisado por um acto memoravel, entre seos altos feitos d’armas, o mais milagroso quanto é possivel á grandesa dos reis, qual a suspensão entre o Céo e a terra de seos jardins, pomares, e bosques de recreio.

Salomão procurou esta comparação entre as coisas profanas para mostrar uma obra divina notavel entre as outras,