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Terminado o processo e proferida a sentença, cuidou-se em sua alma dizendo-se-lhe, que si elle recebesse o baptismo, apesar de sua má vida passada, iria direito para o Ceo apenas sua alma se desprendesse do corpo.

Acreditou nossas palavras, e pedio o baptismo: para tal fim veio o Sr. de Pezieux procurar-me em nossa casa de S. Francisco em Maranhão, e conversando si devia ser eu quem o baptisasse, resolvemos negativamente pelas seguintes razões:

Pensavam os selvagens que nós outros padres eram pessoas misericordiosas e compassivas, que expontaneamente empregavamos nossos esforços perante os grandes para alcançar a vida dos condemnados: que os grandes nos estimavam, e nada nos negavam, e que, alem d’isto, nós prégavamos, que Deos não queria a morte e sim a vida do peccador, e que por isso tinhamos vindo aqui para dar essa vida de forma que, si eu o baptisasse publicamente, antes d’elle morrer, teria satisfeito muitos caprichos d’estes espiritos debeis e incapazes a respeito da opinião, que formavam de nós e que seria muito prejudicial a nossas intenções dando alem d’isso causa a varias murmurações dos selvagens, que diziam — «si os padres gostam da vida, porque deixam este christão ir morrer? Si amam tanto os christãos porque não amam este? Si os grandes nada lhes negam, porque não pedem a vida d’este?»

Por tudo isto, e por outras razões, que omitto, decidimos ser conveniente e necessario, que eu não o baptisasse. Roguei pois ao dito senhor que, depois de instruil-o pelos interpretes, o baptisasse antes de ir ao supplicio, sem as ceremonias da igreja o que se prestou e cumprio.

Recebeo, com tranquilidade e sem tristeza, na presença dos principaes selvagens o baptismo, depois do que um dos Principaes, chamado Karuatapiran «Cardo vermelho,» de quem ainda fallarei, lhe disse estas palavras:

«Tens agora occasião de estares consolado e de não te affligires, pois presentemente és filho de Deos pelo baptismo,