248

materia primitiva, convence natural e necessariamente, que ha um primeiro director no movimento uniforme de tantas coisas de formas contrarias no sentido de aperfeiçoar este mundo universal.»

Seneca, na Epistola 92 á seo amigo Lucilio — Quis dubitare potest mi Lucilli, quin Deorum immortalium munus sit quod vivimus? «Quem é meu amigo Lucilio, que duvida não ser sua vida um dom e beneficio dos Deoses immortaes?»

Aristoteles, Livro II dos animaes, depois que contou muito bem a perfeição d’elles concluio debemus inspicere formas et delectari in Artifice qui fecit eas: «devemos contemplar as formas das creaturas, não para olhal-as só e simplesmente, e sim para d’ellas passar ao que as fez afim de nos regosijarmos.»

É facto averiguado sempre terem tido estes selvagens conhecimento de Deos, porem não da Essencia, Unidade, e Trindade, materia inteiramente dependente de fé, embora Deos tenha deixado na naturesa alguns vestigios, pelos quaes possam os homens formar algumas conjecturas.

Aristoteles, livro 4º, do Ceo e da terra, depois de ter pensado muito nas perfeições d’este mundo, disse Nihil est perfectum nisi Trinitas. «Somente a Trindade é perfeita.»

Estes selvagens sempre chamaram a Deos — Tupan, nome que dão ao trovão, a maneira do que se pratica entre os homens, isto é, terem as obras primas o nome do autor: Note-se porem que este nome no singular não se applica aos relampagos e trovões, que rebentam e illuminam todas as partes, por cima da cabeça dos selvagens, aterrando-os, porque sabem e reconhecem, que elles são formados pela poderosa mão d’Aquelle, que habita nos Ceos.

Por intermedio do interprete informei-me dos velhos do paiz si elles acreditavam, que este Tupan, autor do trovão, era homem como elle?

Responderam-me que não, porque si fosse um homem como nós, seria um grande senhor, e como poderia elle