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sempre enganado, e ainda hoje, estes pobres selvagens por seos oraculos e predicções.

O feiticeiro, de que ja vos fallei, recolhido ás campinas do Mearim, tinha em casa diabos sob a figura de pequenos passaros negros, que o advertiam do que deviam fazer e do que se passava na ilha e em outros lugares.

Quando quiz ir a Maranhão revelaram-lhe estes passaros por occasião de andar passeiando nas suas roças, que cedo chegariam os Tapuyas, e destruiriam seo milho e suas raizes, mas que nenhum mal succederia nem a elle, nem aos seos, e assim aconteceo, porque vindo os Tapuyas de mansinho para sorprehendel-o, ouviram grande matinada na casa do feiticeiro, e por isso não se animaram a atacar, receiando superioridade de defensores, contentando-se com carregar os milhos e raizes, e assim se foram.

Estes mesmos passaros, ou os diabos sob tal forma, ordenaram a este feiticeiro, que fosse á ilha do Maranhão, fazer suas feitiçarias, e convidar os que quizessem deixar a ilha para vir ahi residir devendo desembarcar no porto de Taperussu, isto é, na aldeia dos animaes gordos, n’uma das extremidades do Maranhão, sendo-lhe absolutamente prohibido aproximar-se do lugar onde moravam os padres, o que cumprio pontualmente.

Nunca poude vir ahi nos vêr, apesar de toda a segurança que lhe promettiamos. Dizia que seos espiritos nos temiam, e se lhes desobedecessem, suas roças ficariam por fazer, não trabalharia mais, e perderia o poder, que tinha entre os seos, que seos espiritos lhe haviam aconselhado de retirar-se do Maranhão antes de nós lá chegarmos afim de continuarem á viver com elle tão pacificamente como até hoje.

Estes e outros factos contava elle aos habitantes de Taperussu, que em parte lhe prestavam credito, pois n’essa occasião muitas mulheres se agarravam ás suas pernas, chorando e gritando, pedindo-lhe para que não deixasse o seo paiz, e nem fosse para Yuiret, onde estavamos, principalmente