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querendo chegar mais perto foram descobertos pelo feiticeiro, e retirou-se o morcego.

Chamou-os o feiticeiro, sem zangar-se, fel-os entrar em sua casa, e perguntou-lhes o que queriam e porque estavam a escutar?

Responderam-lhes os francezes, que tinham ouvido dizer aos selvagens seos similhantes, que ahi havia uma communicação visivel e familiar com Jeropary, que d’ella desejavam vêr alguma coisa, e eis porque se tinham aproximado, e ouvido distinctamente duas vozes, a sua e uma outra mais doce e clara.

É verdade, disse elle, eu fallava agora com o meo morcego, que me veio dizer maravilhas e grandes novidades, como sejam guerra em França, e que os Caraibas do Maranhão não estavam onde pensavam, que de nada me assustasse, e ficasse com elle n’esta terra não acompanhando á ilha meos compatriotas, que aqui não ficariamos muito tempo, porque os francezes regressariam á sua patria, e que muitos selvagens de Tapuitapéra tinham fugido para o matto.

Perguntaram-lhes os francezes como elle criava e sustentava este morcego?

Respondeo, que um dia seo espirito, em quanto elle estava só, lhe disse que de ora em diante lhe fallaria sob a figura de tão feio animal, e que por isso lhe havia preparado um quarto em sua casa, onde dormiria e descançaria, comendo do que elle comesse, e quando quizesse fallar-lhe, que elle o ouviria e responderia: que este espirito tambem quando quizesse communicar-lhe alguma coisa de novo o chamaria por seo nome, e com elle fallaria na casa ou no bosque, e mandou o feiticeiro fazer-lhe um ninho para recolher-se, e com elle sempre fallava sob a forma de morcego.

Dizendo isto mostrou um dos cantos da sua casa, onde estava o ninho feito de folhas de palmeira: ahi, disse, vem elle comigo conversar, discorremos como dois iguaes, e come o que lhe dou.