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Ponho de parte mil outros modos, pelos quaes manifesta seos desejos aos feiticeiros, por não ser nosso proposito.

3.º Notamos as noticias, que deo dos motins havidos era França, isto é, d’esta ultima leva de soldados, e como poude ser isto.

Direi com Santo Agostinho, que os demonios excedem em ligeiresa todo o corpo existente na maquina do mundo, nada havendo que possa com elles competir em velocidade.

Em 24 horas fez o primeiro movel este grande curso em torno das abobadas inferiores, espaço superior aos calculos dos mathematicos, de tal modo que dentro d’uma hora vence não sei quantas mil legoas.

Calculae agora a ligeiresa d’estes espiritos, que em poucos momentos giram ao redor do universo, sabendo e vendo o que por elle se passa, e conjecturando o que se pode predizer das coisas futuras: si tão ligeiros fossem os correios, á cada hora receberiamos noticias de todas as partes.

4.º Usava de carne, dado o caso de ser verdadeira a existencia d’este morcego, de que se servia o diabo, e por tanto tinha necessidade de nutrir-se, e si fosse apenas parto de imaginação não tinha precisão de carne para viver.

Não obstante tudo isto, tem sempre sido costume do demonio comer e beber apparentemente em companhia do seos mais dedicados servos, imitando assim o exemplo dos anjos bons do antigo Testamento, que comiam com Abraham, Loth, Tobias e outros.

5.º A situação do logar procurado por este espirito, isto é, os bosques, o concavo das arvores, ou o recanto de alguma casa solitaria, nos faz ver a inclinação, que tem estes espiritos rebeldes a fazerem, como os condemnados, suas moradias em logares escuros e desertos, tristes e melancolicos, temendo, se assim se pode dizer, a luz creada, e a doçura da harmonia.

Acha-se isto em prova na pessoa de Saul, possesso, sendo aplacado pelo som da harpa de David.