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de barro, proferindo em segredo algumas palavras sobre elles, deitando tambem fumaças de Petum, e misturando tambem um pouco de pó da casa, em que se acham, punham-se a dançar, e depois o feiticeiro toma um ramo de palha, mete dentro do pote, e com elle asperge a companhia.

Feito isto, toma cada um a porção d’agua que quer nas cuias, ou tigellas de madeira, e com ella lavam a si e a seos filhos.

Pacamão, grande feiticeiro de Commã,[NCH 104] contou-me um dia, que faria sahir agoa da terra, com que lavava estas gentes, com grande admiração de todos os barbaros, que viam sahir tão fresquinha essa agua do meio de sua casa, e a tomavam como si fosse milagrosamente enviada pelos espiritos, mas o astucioso tinha enchido d’agoa um grande vaso e mettendo-o em terra d’elle fazia sahir agoa por meio de tubos ou canaes, ou tabocas, que em abundancia se encontram nas mattas do Brasil, e d’esta forma illudia os seos.

Aos gentios tinha o diabo communicado muitas ideias erroneas á respeito das agoas, das fontes, e dos regatos. N’umas habitavam Nymphas, e n’outras deosas: estas faziam uma coisa, e aquellas — outras; umas eram perigosas e enganadoras, outras agradaveis e sinceras; umas sagradas, e outras profanas.

Quando os selvagens vêem certa especie de lagartos, parecidos com os venenosos de diversas cores, correr para agoa, pensam supersticiosamente, que essa fonte é prejudicial ás mulheres, e que d’ella bebe Jeropary.

Sabendo desta superstição para livrar-me do encommodo que me davam as mulheres vindo lavar-se na fonte do nosso logar de Sam Francisco, fiz correr o boato, que lá haviam sardões, e depois d’isto nenhuma mais se animou a ir ahi excepto as escravas do Forte, que não tinham licença de lavar-se na fonte, e d’est’arte tive o prazer de mandar