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Não terás d’ella alguma garrafa na tua frasqueira? Dá-me as chaves d’ella.

O Muruuichaue me deo em sua casa um pouco, e era muito boa e muito forte: esfregando seo estomago com a mão, dizia-me, olha, ainda sinto ella aquecer-me.

É costume da França tirar da frasqueira a garrafa quando se recebe visitas de amigos.

Tenho desejos de vir muitas vezes a Yuiret, quando chegam navios de França para gozar do seo vinho muito melhor do que o nosso.

Vendo finalmente a simplicidade d’este homem, que foi o primeiro a rir-se, e não tratando nós mais das coisas de Deos, foi-me necessario rir tambem, dar-lhe agoardente, e depois de ter bebido um bom copo, pelo interprete notou não ter eu bebido com elle, que convinha fazel-o, e que depois elle me acompanharia.

Assim o fiz para chamar estes homens ao seio de Deos, tel-os como que obrigados ou agradecidos a nós em tudo quanto podessemos, conforme sua naturesa, quando n’isto não ha offensa á Deos.

Depois de achar-se um pouco enthusiasmado com o segundo copo começou a pronunciar gutturalmente estas palavras — Goy y katu de katogne kauin tata, «oh! quanto é bom, muito bom o vinho de fogo, ou o vinho que arde.»

Como mau agouro ouvi a palavra Goy, que é o começo para beber-se muito, e principiei a cogitar na maneira por que havia de fechar a garrafa, visto não haver necessidade de tal despesa, então grande pela sua falta.

Disse ao meu interprete, que a levasse, e este querendo cumprir a minha determinação, o meo selvagem agarrou a dizendo não ser costume dos francezes guardarem as garrafas, tiradas da frasqueira para a meza e que por muitas vezes se tinha achado entre elles.

Reconheci que era necessario resgatar a minha prisioneira, embora ella nada me ficasse a devêr pela sua boa composição.