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Vestidos com os nossos habitos de sarja fina por causa do calor da zona tórrida e revestidos de uma bonita sobrepelliz branca, empunhando nossos bastões, e em cima de tudo a Cruz com o Crucificado, descemos do navio para uma canôa, especie de batel construido pelos indios de um só tronco de pau, onde estavam todos os selvagens, que ja tinham estado na praia com o Sr. de Rasilly, e muitos francezes ja dos que vieram comnosco e ja dos pertencentes á equipagem do Sr. de Manoir, e do Capitão Geraldo, todos francezes, que aqui achamos: muitos d’estes selvagens atiraram-se ao mar e nadaram afim de chegarem primeiro do que nós.

Assim conduzidos saltamos em terra, onde se ajoelhou o Sr. de Rasilly e todos os francezes para nos receberem (honra não commum) e como nos achassemos embaraçados com tal sorpresa, eu tive (disse o padre Claudio) a feliz lembrança de entoar o Te-Deum laudamus conforme o cantico da igreja, e assim caminhamos em procissão entre lagrymas de alegria de muitos francezes, e seguidos pelos indios.

Assim tomamos posse d’esta terra e novo mundo para Jesus Christo, e em seo nome, esperando abençôar o lugar, e n’elle plantar a Cruz em qualquer dia para isso designado.

Deixo as outras particularidades para contar-vos quando escrever mais de espaço sobre esta nossa viagem.

Somente vos digo que no domingo 12 de agosto, dia de Santa Clara, celebramos todos quatro as primeiras missas, que aqui se disseram.

Com bem razão ordenou Deos que o dia de uma Santa Virgem da nossa Ordem, que deo nova luz ao mundo, fosse escolhido para fazer brilhar a nova luz do seo Evangelho n’este novo mundo.

Não é possivel descrever-vos o grande contentamento, que mostraram estes pobres selvagens com a nossa vinda.

É um povo conquistado e ganhado, povo grande, que na verdade nos ama, e nos dedica affeição, e chama-nos grandes