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Poderia ser esta descripção do Condor, porem não existe esta ave na America do Sul.

Diz o Coronel Ignacio Accioli ter o gavião real tanta força a ponto de fazer parar em sua carreira um viado por mais forte que seja.

É tão phantastica a descripção do Padre Ivo, que á primeira vista se pode applical-a ao abestruz americano de Nandú, que se encontra somente no Ceará e Piauhy.

Um escriptor contemporaneo, Gabriel Soares, tantas vezes citado, restabelece a verdade fallando do Ura-açu disse «são passaros, como os milhafres de Portugal, sem differença alguma, negros e de azas grandes, de cujas pennas utilisam-se os indios para emplumarem suas flexas, e vivem de rapina.» (Vide Tratado descriptivo do Brasil em 1587. Rio de Janeiro. — 1851 1.º vol. in 8.º pag. 232.)

Lembramos de passagem, que debaixo do ponto de vista scientifico a parte ornithologica é muito imperfeita, embora a bellesa do estylo do nosso velho viajante.

O que diz, por exemplo, o Padre Ivo do passaro mosca, ou do colibri, é inteiramente inexacto, pois elle não tem o tal canto agudo, que faz lembrar o grito da cotovia.

Confundiram-se as recordações com a distancia.

81 (pag. 181).

Ivo de Evreux quer dizer, que os Indios se fazem galans, preparando-se com pennas de papagaios.

Faziam os Tupinambás com estas pennas não só mantos, diademas e perneiras, mas tambem cortavam bem miudinhas as pennas pequenas e coloridas d’estes passaros, e cobriam com esta pennugem o corpo, e n’elle grudavam-na com certa gomma.

Este enfeite selvagem e singularmente original ainda é muito usado e apreciado em certas tribus.

Segundo conta João de Lery durou mais de tres seculos.

A viagem pittoresca de Debret apresenta uma amostra.