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continuaria a ser esquecida se o Sr. de Cortambert não nos fizesse o favor de communicar-nos a sua existencia.

Sentimos muito praser recordando-nos, que este bello trabalho do desconhecido geographo vae de hora em diante ligar-se ao mais vasto e ao mais exacto reconhecimento das costas do Brasil, que tem podido obter a sciencia n’estes ultimos tempos, e d’ella fará objecto de especial estudo o Sr. capitão da fragata Mouchez na sua grande obra nautica a respeito do littoral do Brasil.

Deviam acabar aqui as notas indispensaveis para conhecer-se na França e mesmo na America o texto do nosso velho viajante.

Accrescentaremos apenas uma palavra, talvez indispensavel para comprehender-se o valor do documento por nós exhumado.

O padre Arsenio de Pariz, o fiel companheiro do padre Ivo d’Evreux, disse em 1613 ao Superior do seo Mosteiro á proposito das regiões, por onde evangelisou, o seguinte:

«Eu vos asseguro, meo padre, que quando estiver um pouco estabelecido, será um verdadeiro paraiso terrestre.»

A esperança do bom Religioso não era das que se podem realisar completamente: não caminham assim as coisas neste mundo, porem não sendo o paraiso, é o Maranhão uma das provincias de um vasto Imperio, que vae progredindo.

No meio de prosperidades reaes, e apezar dos esforços de espiritos felizmente bem intencionados, o progresso intelletual do paiz está muito longe do que devia ser.

As recordações do passado, que tanto desenvolvem as populações, ahi não existem.

Não ha archivos, bibliothecas publicas, e nem instituições litterarias, e tanto é verdade isto, que o Imperador, o Sr. D. Pedro 2º, ha dez annos incumbio um dos homens mais activos e eminentes d’este paiz para examinar na Cidade de Sam Luiz o estado real dos depositos litterarios da Capital do Maranhão.