XXXIII

de lastimar a ausencia de seos antigos alliados. Ja não residiam nos arrebaldes da cidade nova, e sim no districto de Cumã em numerosas aldeias. Indo um dia o seo chefe europeo ter com seo pae, que o mandou chamar, passaram por Tapuitapera alguns indios vindos do Pará, trasendo cartas para o capitão-mór de S. Luiz. Um Tupinambá convertido ao christianismo, por nome Amaro, aproveitou-se da passagem dos seos compatriotas para executar um plano terrivel.

Tomou uma das cartas, abrio-a, e fingindo lel-a[1] dirigio-se aos chefes das aldeias, e declarou-lhes que o fim d’estas missivas era uma abominavel trahição, urdida pelos portuguezes, que tinham resolvido, atreveo-se elle a dizer, reduzil-os á condicção d’escravos.

Terrivel carnificina, onde pereceram todos os brancos, foi o resultado d’esta astucia do indio, bem facil de ser acreditada á vista dos acontecimentos precedentes.

Espalhou-se pelo littoral a noticia d’este facto. Mathias de Albuquerque promptamente regressou ao campo onde se deram scenas tão tristes, e vingou seos compatriotas exterminando sem piedade os Tupinambás.

As tribus, que moravam mais longe, insurgiram-se, e formaram entre si indissoluvel alliança, animando-as implacavel vingança, apezar de serem á principio tão pacificas, e de se acharem tão dispostas á abraçar a nova fé, que lhe tinha prégado o Padre Ivo d’Evreux. Levantaram-se tambem, e espontaneamente, aldeias mui longinquas.

Jeronymo d’Albuquerque expedio contra ellas tropas aguerridas, e em breve o incendio e a morte substituio as festas, que faziam com toda a segurança e boa fé.

  1. Affirma Berredo ser este indio um amigo dedicado dos franceses, porem melhor informado o Jornal de Timon nos deo o nome deste selvagem, educado nas missões do Sul. Ja se vê, que não podia ter muita affeição aos francezes.
    Para urdir este horrivel estratagema, basta somente o odio, que nutriam certos indios contra os dominadores do seo paiz, não sendo necessario ser filho de Ruão ou de Rochelles.