XXXIV

Tinham apenas passado tres annos depois da partida dos capuchinhos francezes, e por isso era no principio do anno de 1617. A Cidade de S. Luiz do Maranhão, activamente edificada, começou a tomar o aspecto de uma Cidade européa.

Este progresso inquietava os selvagens, que á custa de seos soffrimentos tornaram-se previdentes; forçados á deixar o sul do Brazil procuraram grandes florestas, e abrigados em seos seios esperavam recobrar sua independencia, e para isto só tinham um pensamento — a destruição completa de uma raça invasora, que não poude ser expellida pelos seos antepassados.

Formaram os chefes Tupinambás uma liga desde os desertos de Cumã até ás margens do Amazonas: pretendiam assaltar de surpreza a nova colonia, e n’um dia convencionado matariam todos os habitantes. N’esse tempo não havia quasi indio, que não arrostasse sem medo as descargas de mosquetaria.

Em quanto se ouvia este plano, e se trabalhava na sua execução, estava em Tapuitapera Mathias d’Albuquerque, com pequeno numero de soldados, descuidado de si e dos seos: entre os indios appareceu um trahidor, que descobrio o projecto dos chefes dos selvagens ao commandante portuguez, que não se assustando com o numero dos seos terriveis inimigos, travou-se com elles no primeiro combate, e levou-os de vencida até á distancia de 50 legoas, ajudado em tão atrevida acção pelo bravo official Manoel Pires.

Ainda vivia, porem bem proximo do termo de sua existencia o antagonista de Razilly e de la Ravardière: sem sahir da nova Cidade de S. Luiz muito ajudou seo filho com seos conselhos e com remessa de soldados que tinha em reserva.

Não se assustou Mathias de Albuquerque com as difficuldades de todo o genero, que encontrava seo pequeno exercito n’esses immensos desertos; foi batendo os indios pouco á pouco até que em 3 de Fevereiro de 1617 derrotou-os