XXXIX

Muito mais moço do que o seo companheiro, martyr no apostolado, o Padre Luiz Figueira iniciou-se, então mais do que nunca, nos segredos de uma lingoa, já visivelmente alterada no littoral, porem pura no seio das florestas.

Cinco annos após a impressão do volume do Padre Ivo, elle publicou a sua Arte de Grammatica, e pela primeira vez depois de alguns ensaios incompletos do seculo XVI conheceu-se os principios de um idioma, que ainda fallava um povo corajoso, porem prestes a morrer.[1]

Voltemos ao nosso piedoso viajante.

Se vivesse ainda, como é bem provavel, alem da epocha em que se deram estes acontecimentos, em 1619 por exemplo, Ivo d’Evreux certamente não fazia mais parte do grande Mosteiro d’onde outrora sahio com destino ao novo mundo.

Póde suppôr-se, que o seo homonimo de Pariz principiava a eclipsal-o, e por isso vivia elle longe da grande Communidade: se residisse no Convento da rua de Santo Honorato, não é provavel que fosse de todo esquecido nas pequenas biographias, escriptas tão liberalmente á respeito de Religiosos, que nada escreveram, como seja, entre outros, Ivo de Corbeil, simples irmão leigo, fallescido em 1623, apenas conhecido na Ordem pelo seo amor á humanidade.

  1. Desta primeira edicção, publicada em 1621, tornou-se, para assim dizer, impossivel ser encontrado um sò exemplar.
    A segunda edicção sahio com o titulo Arte de grammatica da lingua brasilica do padre Luiz Figueira, Theologo da Companhia de Jesus. Lisboa, Miguel Deslande, anno 1687, pet. em 12.º O sabio bibliographo portuguez o Sr. Innocencio Francisco da Silva não reproduz exactamente este titulo, porem menciona uma edicção da Bahia em 1851 pelo Sr. João Joaquim da Silva Guimarães, cujo titulo é muito extenso.
    A grammatica do Padre Anchieta — Arte da grammatica da lingua mais usada na costa do Brasil, appareceo em Coimbra no anno de 1595, em 8º, e d’ella em Portugal apenas se conhece um exemplar.