XLV

Amazonas. Até nós não chegou esta especie de jornal, que alem de esclarecer muitas coisas, seria tambem de muito interesse para ser comparado com os documentos fornecidos n’essa epocha por um francez, cujas viagens mereceo as honras da impressão.

Na verdade, dez annos antes, no meiado de 1604, João Mocquet, o guarda das curiosidades de Henrique IV e de Luiz XIII, percorreo as margens do Amazonas, e exforçou-se para fazer conhecer aos seos compatriotas este grande rio. Infelizmente este pobre cirurgião d’aldeia tinha mais zelo do que luzes, e por isso não podiam ser suas observações confrontadas com as de um homem, tão conhecido pela sua instrucção, como pela sua lealdade.

A viagem de Ravardiere pelo Amazonas e Maranhão deve estar minuciosamente descripta na grande chronica dos Padres da Companhia, existente em Evora.

Consultando os sabios trabalhos bibliographicos do Sr. Rivara, n’elles adquirimos esta certesa, pois o Cap. 111 d’este vasto Cathalogo tracta especialmente do dominio dos francezes n’essas regiões. Não podemos pessoalmente examinal-o. Graças ao espirito investigador de tantos sabios historiadores, ainda não perdemos de todo a esperança de encontrar o escripto em questão.

Diariamente emprega o Brazil os mais louvaveis exforços para colligir documentos inedictos, fontes da sua historia, e se em alguma livraria por ahi algures fosse descuberta a Viagem de Ravardiere, serviria, com os escriptos de Claudio d’Abbeville e de Ivo d’Evreux, de guia seguro para se consultar relativamente a estas Provincias do norte, das quaes só se conhecem as explendidas solidões, e cujo passado nos foi, para assim dizer, revelado pelo nosso Missionario.