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mais vale a doçura e clemencia do que o rigor e a força, respeitando assim o natural da Nação francesa.

Não trabalhavam somente os homens e sim tambem as mulheres e os filhinhos, aos quaes elles davam pequenos cestos, para carregar terra conforme suas forças.

Vi muitos meninos, apenas com dois ou tres annos d’idade, fazer a carga com suas mãosinhas e não ter força para conduzil-a.

Perguntei a alguns velhos porque consentiam que trabalhassem os meninos, servindo isto para distrahir os que os vigiavam, especialmente seos paes, que assim não podiam adiantar a tarefa, achando-se elles sempre em perigo, ou por estarem nùs apezar de tenrinhos, ou por poderem ser feridos pelo desabamento de algum pedaço de terra, ou por alguma pedra, que se desprendesse do monte.

Respondeo-me assim o interprete. Temos muito prazer vendo nossos filhos comnosco trabalhando n’este Forte, para que um dia digam á seos filhos e estes a seos descendentes «eis a Fortalesa, que nós e nossos paes fizemos para os Francezes, que trouxeram Padres, que levantaram casas a Deos, e que vieram defender-nos de nossos inimigos.»

É mui commum esta maneira de communicar á seos filhos o que entre elles se passa, já que por escriptos não podem fazel-o aos vindouros, e ir assim á posteridade.

Para nada esquecer, como que gravam na memoria as occorrencias, e só d’esta maneira se pode explicar como contam muitas coisas passadas nos seculos, em que viveram seos avós, ou no tempo da sua mocidade: vão passando por esta forma o que sabem a seos filhos, como ainda diremos ádiante.

Desejaria muito, que nossos Paes assim se empenhassem para gravar no coração de seos descendentes...