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É differente da usual esta farinha de munição, por ser mais bem cozida, e misturada com cariman para durar mais tempo, embora menos saborosa, porem mais san e fresca.

Em segundo lugar empregam-se os homens em fazer canoas, ou concertar as que já possuem proprias para este fim, por que é necessario, que sejam compridas e largas para levarem muitas pessoas, suas armas e provisões, e comtudo são feitas de uma arvore, cortada bem perto da raiz, sem galhos e ramos, ficando apenas o tronco bem direito em toda a sua extensão, e então tiram-lhe a casca, e racham n’a dando-lhe meio pé de largura e profundidade: n’este caso lançam-lhe fogo n’essa fenda por meio de cavacos bem seccos, e vão queimando pouco a pouco o interior do tronco, raspam com uma chapa de aço, e assim vão fazendo até que o tronco esteja todo cavado, deixando apenas duas pollegadas d’espessura, e depois com alavancas dão-lhe fórma e largura: estas canoas conduzem as vezes 200 ou 300 pessoas[NCH 14] com as suas competentes munições. São conduzidas por mancebos fortes e robustos, escolhidos de proposito, por meio de remos de pás de tres pés cada um, que cortam as agoas a pique e não de travessia.

Em terceiro lugar preparam suas pennas, tanto para a cabeça, braços, e rins, como para as armas. Para a cabeça usam de uma peruca ou cabelleira de pennas de cores vermelhas, amarellas, verde-gaio e violetas, que prendem aos cabellos com uma especie de colla ou grude.

Enfeitam a testa com grandes pennas de araras, e outros passaros similhantes, de cores variadas, e dispostas á maneira de mitra, que amarram atraz da cabeça.

Nos braços atam braceletes tambem de pennas de diversas cores, tecidas com fio de algodão, similhante á mitra de que acabamos de fallar.

Nos rins usam de uma roda de pennas da cauda de ema,[NCH 15] presa por dois fios d’algodão, tinctos de vermelho, cruzando-se pelos hombros a maneira de suspensorios, de sorte que