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pelo paiz ao longo d’esta costa, descobriram á final uma linda ilha, ahi se recolheram, e em certas estações do anno acceitam por companheiros os homens das habitações mais proximas.

Si párem um menino pertence ao pae, que d’elle cuida logo depois de desmamado: si porem é uma menina fica com a mãe em casa. Eis a voz geral e commum.

N’um dia, quando os francezes andavam n’esta viagem, fui visitado por um grande Principal, que morava muito acima n’este rio. Depois dos seos cumprimentos, que descreverei mais adiante, me disse morar nas ultimas terras dos Tupinambás, e que só em duas luas podia voltar do rio Maranhão á sua aldeia, e então lhe respondi admirando-me do trabalho que tomou vindo de tão longe. Replicou-me «fui ao Pará vêr meos parentes, quando foram os francezes guerrear nossos inimigos, e ouvindo fallar de vós e dos outros Padres, quiz vel-os pessoalmente para dar noticias certas aos meos companheiros.»

Por intermedio do meo interprete lhe perguntei si sua residencia era muito longe da das Amazonas, e elle respondeo-me «uma lua,» isto é, um mez para ir.

Repliquei-lhe, si tinha estado entre ellas, e si as tinha visto, e respondeu-me «que nem uma coisa nem outra», pois nas canoas de guerra, onde andou, se desviou da ilha onde ellas residiam.

Esta palavra Amasonas lhes foi imposta pelos portuguezes e francezes[NCH 16] pela similhança, que ellas tinham com as antigas Amazonas por causa de sua separação dos homens; porem não cortam a mama direita, e nem imitam a coragem d’essas afamadas guerreiras, mas vivem como as outras mulheres selvagens, ageis e dextras no manejo do arco, e nuas se defendem dos seos inimigos, como podem.

No dia 8 de julho de 1613 do porto de Santa Maria do Maranhão, partio o Sr. Ravardiere ao som de muitos tiros de artilharia e mosquetaria, com que o saudou o Forte de S. Luiz segundo é costume entre os militares.