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passaram-se na Ilha muitas coisas notaveis, que contarei nos seguintes capitulos.

Tratarei em primeiro lugar de um indio agradavel e astucioso intitulado Capitão,[NCH 21] irmão da mãe de um principal, muito amigo dos francezes, chamado Ianuaravaête, que quer dizer cão grande ou cão furioso.

Este Capitão astuciosamente aproximou-se de nós, dizendo por intermedio do interprete, que desejava ser christão, aprender a ler, e a escrever, fallar francez e fazer cortesias, gestos e ceremonias dos francezes.

Acreditaram nas suas palavras, e alguns até cercaram-lhe de muitas attenções.

Passou alguns mezes em nossa visinhança, e mostrando-se com desejos de ter vestidos como os nossos paramentos sagrados, com os quaes diziamos missa; por sua mulher nos mandou pedir, o que negamos.

Não nos deixou por esta recusa, porem algum tempo depois, disfarçando muito bem seo descontentamento, ia á sua aldeia e voltava, até que poude espalhar pela Ilha o boato de que os francezes pretendiam escravisar os Tupinambás, e por tanto que era necessario fugir e abandonal-os.

Alguns acreditaram, e por isso deixaram suas aldeias e foram para outras, onde podessem fugir com mais prestesa si assim fosse necessario.

Julgou chegada a occasião de se fazer valer entre os seos: pois tinha extremo desejo de ser grande, e não podia chegar a sel-o, porque fogem as honras d’aquelles que as procuram com methodo, o que vemos em todas as condicções, e foi este o seo fim e intenção quando de nós se aproximou, servindo-se de nosso concurso para realisar seo desideratum, visto o ambicioso nada poupar, nem mesmo as coisas sagradas, para obter o que deseja.

Principiou visitando as aldeias da Ilha, onde desconfiava ter descontentes, e ahi nas cabanas e na casa-grande, costumava batendo nas coxas grandes palmadas, harengar assim — Ché, Ché, Ché, auaête. Ché, Ché, Ché. Pagy Uaçú, Ché,