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uma as noções, as teorias, as sentenças, as leis que me fizeram absorver; e ficaria sem a tentação danada da analogia, sem o veneno da análise. Então, encher-me-ia de respeito por tudo e por todos, só sabendo que devia viver de qualquer modo... Mas... era impossível, impossível! Era tarde, e os culpados do que eu sofria não eram a minha educação nem a minha instrução. Era eu mesmo; era o meu gênio; era o meu orgulho aliado a um estúpido medo. Arrependi-me da maldição e reconciliei-me comigo mesmo. Havia de curar-me. Gonzaga de Sá não me falava, mas eu sentia que a metade daqueles pensamentos eram dele. A nossa amizade era tão perfeita que dispensava palavras. Entre nós havia aquele aperfeiçoamento de comunicação que Wells tanto encomia nos marcianos: mal emitia um pensamento um dos nossos cérebros, ia ele logo ao outro, sem intermediário algum, por via telepática. Depois da estação do Rocha, quando aquela obtusa vizinhança desembarcou, e se veio sentar no banco ao lado um jovem par de namorados, os vizinhos em frente se puseram a conversar. A principio, não ouvi bem o que diziam; mas, por fim, entendi que discutiam a grande tese das raças. Dizia um com um grande anel simbólico no indicador: