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curiosos exemplares da nossa humanidade. Na minha meninice, nos arredores do Rio, eu tinha visto espetáculo que agora a imaginação associava a este. Era por aquela hora dourada da tarde, mais cedo um pouco, mas já as montanhas se tinham adelgaçado para sofrer a carícia imaterial de um céu rarefeito. Uma longa fila de carros de bois, cheios de verduras, carvão e lenha desfilavam pela estrada. Os carreiros gritavam de quando em quando; os bois mastigavam o passo; por vezes, alongavam a língua, um inclinando-se sobre outro, a fim, talvez, de melhor dividir o esforço de tração... Oh! a solidariedade da carga!

Aos poucos venciam os óbices e chegavam ao porto, à praia risonha da ilha... Nem sabiam aqueles animais de sua força; nem suspeitavam que toda uma cidade esperava aquelas úteis ou saborosas coisas que só a sua paciência e a sua força poderiam arrastar por sobre aqueles caminhos instáveis. A estrada me veio em mente: arenosa, de solo fugidio e móvel, mas, guardando indelevelmente o trilho paralelo dos carros, com os maricás, as pitangueiras, nas bordas, salpicadas de frutas vermelhas, e, de quando em quando, também uma árvore de mais vulto, um cajueiro, uma