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figueira — toda ela, ao passarem os carros, envolvida na poeira que o sol, no poente, avermelhava e dava faiscações de ouro. Aqueles homens, pacientes e tardos, que eu via naquele ambiente de vila, eram o esteio, a base, a grossa pedra alicerçal da sociedade... Operários e pequenos burgueses, eram eles que formavam a trama da nossa vida social, trama imortal, depósito sagrado, fonte de onde saem e sairão os grandes exemplares da Pátria, e também os ruins para excitar e fermentar a vida do nosso agrupamento e não deixá-lo enlanguescer... Quiçá não soubessem disso, e, se o soubessem, não se consolariam do duro fardo de viver... Viviam, sob o aguilhão dos deveres e com a vaga esperança consoladora da afeição eterna dos filhos.

— É ali, disse-me Gonzaga de Sá, apontando para um amontoado de casas.

Tomamos uma rua transversal e fomos indo quase sós por ela afora. Eu ainda não tinha visto a casa, embora Gonzaga m’a tivesse apontado. O arruamento do subúrbio é delirante. Uma rua começa larga, ampla, reta; vamos lhe seguindo o alinhamento, satisfeitos, a imaginar os grandes palácios que a bordarão daqui a anos, de repente estrangula-se, bifurca-se, subdivide-se num feixe de travessas, que