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aos lábios, logo o abafavam. Sentei-me também numa cadeira. E afinal pude olhar o cadáver, a cor faraônica do rosto, meio oculto no lenço ao queixo e pelas pétalas de flores espalhadas ao redor. Pouco conhecera aquele homem. Encontrara-o algumas vezes, no serviço, na Secretaria dos Cultos, onde era servente. Sabia-o compadre de Gonzaga e chamar-se Romualdo de Araújo. A amizade entre aqueles dois homens, tão diferentes de condição e educação, era forte e profunda. Conquanto não tivessem nunca chegado à completa intimidade, eles se amavam de um modo especial, distante, é certo, mas que permitia a duração eterna da afeição. D. Gabriela, alta, muda, com a sua misteriosa pele parda, ia e vinha, espevitava as velas, endireitava um bouquet, tudo muito calmamente, sem vacilação, sem terror, familiarizada com o ato. Seu filho chegou com o pão. Era um magnífico exemplar de mulato, de mulato robusto, ousado de olhar e figura, mas leve, vivaz, flexível, sem reçumar peso nem lentidão nos modos. Gonzaga de Sá recomendou-lhe qualquer coisa e, daí a instantes, fomos jantar. A noite veio e mais pessoas chegaram.

Eu a vi cair da sala de jantar, apreciando o crepúsculo por uma janela. Fiquei durante