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me coisas obcenas; vagos e indefinidos desejos cresceram em tumulto, de roldão; borbulhavam, subiam e desciam dentro de mim, encontravam-se, faziam-se outros a exigir satisfações, carícias, estados enervados e deliciosos...

Conversamos muito ainda, esquecidos do defunto, inebriados um do outro como se estivéssemos em um baile.

— A vida é cruel, disse-lhe em certa ocasião. Tudo acaba na Morte.

— É. Mas há nela certas passagens que talvez a Morte não apague.

— Que instantes dessa natureza teria tido o Romualdo?

— Ele lá sabia... Cada um sabe quando é feliz, e não pode dizer a ninguém, nem mesmo que queira... A coisa fica vivendo dentro de nós e só a lembrança dela nos alegra de novo... O senhor era amigo dele?

— Apenas o conheci...

— Fomos vizinhos dois anos... Habituei-me a vê-lo, a estimar-lhe o filho e sinto... Quando a gente está alegre dá vontade de dançar, de cantar — não é? Parece que dentro de nós há muita coisa demais, molas, um mecanismo que nos empurra... Quando fico triste também me vem a mesma vontade... É curioso!...