Página:Vida e morte de M J Gonzaga de Sá (1919).djvu/139

como dizia a moça! Que culpa tinha eu?! Até as palavras doces, os galanteios me vieram, a mim, tão canhestro com as damas! Fora automático... Que culpa tinha eu?

Ademais, senti também, era o cadáver que me impelia, que me empurrava para a moça; era sua mudez de fim que me ditava o único ato da minha vida capaz de fugir à lei a que ele se curvara. Vivente, tinha vivido, pois tanto é forte em nós viver que só em nós mesmos encontramos a razão e o fim da vida, sabendo todos nós que devemos continuá-la a todo o transe, custe o que custar, em nós mesmos e nos nossos descendentes.

Tive ainda uma ponta de arrependimento, apesar de tudo, pois não sei o que me que dizia que fora longe demais...

Gonzaga de Sá entrou, sentou-se na cadeira em que estivera a moça. Recostou-se e disse-me, olhando o céu:

— Como está belo o céu! Hein? Para ele não há dores... Os que vivem que lhe apreciem a beleza; os que morrem que deixem os outros o cuidado de apreciá-la...

Calou-se um pouco e depois acrescentou ex-abrupto:

— Essa continuidade é imposta por tudo. As folhas que caem adubam as raízes das árvores