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Sem procurar resolver tão imbecil questão, respondi:

— É difícil de saber... Eu não atino.

Por instantes permaneceu calado, contemplando a multidão na alameda em frente.

Segui os seus movimentos. Tinha deixado de traçar a figura na areia e descansara negligentemente a bengala sobre a perna. Esforçava-se por abranger o maior círculo possível de horizonte e, sem se fatigar, ia e vinha com os olhos, de um extremo dele a outro. Parecia um navegante perdido que procura tênues indícios de costa.

— Eu julgo, disse ele, depois de estar algum tempo naquela postura, que os desgraçados se deviam matar em massa a um só tempo. Schopenhauer, que propôs o suicídio da humanidade, foi longe; devem ser só os desgraçados, os felizes que fiquem com a sua felicidade.

— Propõe isso para ver se eles aceitam.

— De certo, não. A burrice é firme e os leva a viver, apesar de tudo. Eu não compreendo, acrescentou depois de uma pausa, que um homem — um animal dotado de senso crítico, capaz de colher analogias — levante-se às quatro horas da madrugada, para vir trabalhar no Arsenal de Marinha, em quanto o Ministro