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conversavam com cavalheiros à entrada dos camarotes. Eu ficava bem junto à fila direita. Vi algumas de perto, e as cadeiras do camarotes que me pareceram bem inferiores às da sala de jantar da minha modesta casa. Notei-lhes o forro de reles papel pintado, o assoalho de taboas de pinho barato; alonguei o olhar pelo corredor e, além de acanhados, julguei-os sujos, vulgares, a guiar os passos para lugares escudos. O teto sempre me intrigou. Com os seus varões de ferro atravessados, supus que se destinassem a trapézios e outras coisas de acrobacia. Ópera ou circo? Entretanto, eu estava no ponto mais elegante do Brasil; no ponto para que converge tudo que há de mais fino na minha terra.

Era para brilhar ali que nós todos brigávamos, matávamos e roubávamos por sobre os oito milhões de quilômetros quadrados do Brasil. Não se acredita! Os músicos tinham acabado de afinar os instrumentos; dentro em pouco, o maestro chegou. O Presidente apareceu no camarote e a orquestra atacou o hino nacional. Pusemo-nos de pé e, ao começar propriamente a ópera, sentamo-nos a ouvi-la.

— Bela casa! disse eu ao ouvido de Gonzaga de Sá.