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ia ser pleno, e a visita dar-nos-ia o perfeito enlace das nossas almas. Caminhava como para um quarto de núpcias. Mais do que o jantar e as águas fortes que ele me convidara a folhear, levavam-me à sua casa, a simpática curiosidade de viver o interior e o desejo de saborear a sua inteligente palestra, paradoxal e um tanto sentenciosa. Na nossa terra de submissão antecipada, o paradoxo encanta, mesmo sob o aspecto sentencioso. Subi devagar uma rua em ladeira pelas bandas da Candelária; e bati palmas, com respeito, no portão do jardim de sua velha casa, lá quase no alto de Santa Teresa. Veio-me abrir a porta um preto velho, da raça daqueles pretos velhos que sofreram paternalmente os caprichos das nossas anteriores gerações.

— Senhor Gonzaga de Sá?

— Nhonhô?

— Sim, meu velho.

Entrei para a sala principal da casa, da qual mestre Gonzaga de Sá fizera a sua de estudos. Tinha o teto em tronco de pirâmide retangular e esticado, e as estantes, a não ser nos vãos das janelas e portas, eram pequenas, da altura do peitoril da janela, e guarneciam a sala em toda a extensão das quatro faces. Por cima delas, ao jeito de um longo consolo,