Página:Vida e morte de M J Gonzaga de Sá (1919).djvu/92

e se dissolviam pelo ambiente todo. Olhando as deliciosas figuras do melancólico Sandro, discorria o meu generoso amigo:

— Há duas horas, na estação da Piedade, esperava eu o trem. Afinal, foi ele anunciado. Daí a instantes apontou, ao tempo em que um homem atravessava a linha um pouco, a montante da estação. Avisos... gritos... gestos... O trem apita. O homem entontece, ataranta-se e é apanhado — mas de que maneira, meu Deus?! O limpa-trilhos levanta-o, atira-o sobre aquela espécie de plataforma-proa — sabes? O animal agarra-se a um ferro e a locomotiva acaba parando, bem junto à estação, trazendo o pobre homem de cabeça partida, humilhado, ensanguentado, mas vivo, vivinho, aparvalhado, sucumbido, completamente esmagado de terror diante daquela besta paleontológica que ele mesmo inventara. A eternidade da nossa espécie repousa sob bases sólidas, Machado.

Ouvindo uma voz na sala, voltei-me.

— Machado: minha tia Escolástica, apresentou-me Gonzaga de Sá.

Que linda figura de velha era a dela. Muito clara, com uns olhinhos verdes e um miúdo perfil de criança. Tudo era candura e simpatia naquela velha solteirona. A alvura de seu casaco ressaltava extraordinariamente, imaculada,