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— É delicioso.

Dentro em pouco o velho preto Inácio entrou com os copos e a garrafa numa bandeja.

— Deixa aí, Inácio.

Embora Gonzaga de Sá falasse com toda a brandura, o pobre velho quase deixou cair a garrafa.

— Não imaginas, menino, que tesouro de dedicação há nesse homem. Eu não sei de onde ele o tira e de que maneira argamassou tão grandes sentimentos. Nasceu escravo, uns dias antes de mim; meu pai o libertou na pia, por isso. A mim me acompanha desde os primeiros dias do nascimento. É um irmão de leite. Viu-me nas atitudes mais humildes; apreciou-me em propósitos repugnantes; assistiu ao desmoronamento da grandeza da minha casa familiar; entretanto, não sendo, como parece a todos, destituído de inteligência critica, sou para ele o mesmo, o mesmíssimo, cuja representação se lhe fez na consciência, no correr dos seus primeiros lustros de vida. Eu não o chego absolutamente a compreender. Acho-o obscuro; mas me deslumbra — é grandioso! Às vezes, confesso, me parece uma subalterna dedicação animal; às vezes, também confesso, me parece um sentimento divino... Eu não sei, mas amo-o.

Não fora sem comoção que Gonzaga de