Perguntou Maria á mestra,
Vendo uma planta nascida:
― ¿Como aparece isto aqui?
Quem a trouxe, ou lhe deu vida?
―¿Trazê-la? Talvez o vento,
Qualquer animal ou ave,
Lançou no vaso a semente
De que nasceu esta agave.
«A terra deu-lhe, propícia,
«Calor, humidade e ar,
«Sem os quais nunca a semente
«Pode vir a germinar.
«Se enterrar qualquer grãozito
«A muita profundidade,
«A planta não nascerá,
«Falta de ar e de humidade.
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«As plantas são seres vivos:
«Têm o seu corpo tambêm
«Com pulmões, veias e sangue
«Como um sêr animal tem.
«Se tirar da terra a planta
¿Que vê primeiro ? ― A raiz.
― A' raiz segue-se o caule...
― E das folhas que me diz?
― As folhas são os pulmões.
Por elas respira a planta...
― ¡Uma planta a respirar!
Essa idea é que me espanta.
― Tudo que vive respira
Na terra, n'água ou no ar.
― ¿Então os peixes no tanque
Tambêm podem respirar?
― Tambêm. Mas, voltando ás plantas:
O sangue delas é seiva,
Que anima, não só as árvores
Como as ervinhas da leiva.
«As veias são os seus vasos...
― Conte-me antes da piteira,
Visto vir brotar aqui
D'esta inesp'rada maneira.
― É arbusto americano,
Chega a vinte anos de idade,
Atinge mais de dois metros
E tem muita utilidade.
«Da agave fazem-se cordas,
«Esteiras grossas, tecidos,
«E co'a medula das folhas
«Podem ser substituidos
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«Cortiça, vime e cordel.
«A cada agave se corta
«Muita folha em cada ano
«Sem p'rigo de a deixar morta.
«Da seiva fazem no México
«Uma alcoólica bebida,
«Que é pelo nome de pulca
«Vulgarmente conhecida.
«Faz-se tambêm um xarope,
«Simples e muito eficaz,
«Que cura a tosse convulsa
«Mais profunda e pertinaz.
«Desabrocha em florescências
«Uma vez em toda a vida,
«E morre logo que deixa
«Meio de ser reproduzida.
«Quer nos plainos d'alêm Tejo,
«Na Extremadura ou no Minho,
«Verá sebes de piteiras,
«Ornamentando o caminho.
«Defensoras primitivas,
«Mas que fazem muito mal,
«São as muralhas dos pobres
«Nas terras de Portugal.