Pastoral aos crentes do amor e da morte (1923)/A Cathedral

Entre brumas ao longe surge a aurora,
O hyalino orvalho aos poucos se evapora,
Agoniza o arrebol.
A cathedral eburnea do meu sonho
Apparece na paz do céo risonho
Toda branca de sol.

E o sino canta em lugubres responsos:
Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!

O astro glorioso segue a eterna estrada.
Uma aurea setta lhe scintilla em cada
Refulgente raio de luz.
A cathedral eburnea do meu sonho,
Onde os meus olhos tão cançados ponho,
Recebe a bençam de Jesus.

E o sino clama em lugubres responsos:
Pobre Alphonsus ! Pobre Alphonsus!

Por entre lirios e lilazes desce
A tarde esquiva: amargurada prece
Põe-se a lua a rezar.
A cathedral eburnea do meu sonho
Apparece na paz do céu tristonho
Toda branca de luar.

E o sino chora em lugubres responsos:
Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!

O céu é todo trevas: o vento uiva.
Do relampago a cabelleira ruiva
Vem açoitar o rosto meu.
E a cathedral eburnea do meu sonho
Afunda-se no cháos do céu medonho
Como um astro que já morreu.

E o sino geme em lugubres responsos:
Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!

Julho — 14, de 1914.