Não é verdade que possa-se bem escrever, quando se sofre.
CHATEAUBRIAND.


Belo jovem, tu vagueias
Por campinas de esmeralda.
Adormentas sobre as flores
O doce amor que te escalda.
 
Ainda o céu te aparece
Vasta abobada de anil.
A teus olhos não há nuvem,
Nem furacão, nem fuzil.
 
Inda levantas os olhos
Á tua estrela feliz,
Lês cada noite em seus raios
Mil esperanças gentis.
 
Depois das visões ditosas
De teu dourado dormir,
Acordas falando amores
Com prazenteiro sorrir.


Ao ardor meridiano
Ouvem-te ainda cantar.
Não vês a mágoa estampada
Na face crepuscular.
 
Pela escada da ventura
Sobes cad'hora um degrau,
Tua existência mimosa
É um contínuo sarau.
 
Belo jovem, — no teu peito
Não tocou a mão da dor.
Teu espírito inocente
Pode bem pensar de amor.
 
Belo jovem, — só tu podes
Co'os sentimentos na mão,
Falar palavras ardentes,
Labaredas de paixão.
 
Eu que tenho lutado contra a vida,
Bebido noutro cálice de dores,
Jovem! — não posso meditar doçuras,
Cantar ternos amores.
 
Eu que nunca senti nos olhos dalma
O traspassar dos olhos da donzela,
Jovem! — não posso te pintar ardores
Que não senti por ela.


E se eu quisera, disfarçando angustias,
Cantar suave a tua bela Armia,
Jovem! — de todos eu teria em paga
Um riso de ironia.