Proclamação da Câmara de Angra aos povos do seu concelho noticiando-lhes o ser acabado o sistema constitucional

A Câmara de Angra aos fiéis e leais angrenses.

Nobres e Leais Angrenses. Povo fiel e sempre fiel, chegou o suspirado período da nossa salvação: já o nosso Augusto Monarca se acha elevado ao trono de seus maiores — tranquilizai-vos — clama o mesmo Augusto Monarca; sossegai, estai pacíficos que o nosso Soberano nos assegura que um poder absoluto repugna ao seu paternal, e que outro legítimo há-de segurar a dignidade da coroa, e manter os direitos e liberdades do cidadão.

Honrados angrenses, brioso povo, escutai o que a todos proclama o nosso, o melhor de todos os Monarcas: as seguintes palavras são as da sua paternal proclamação: «cidadãos eu não desejo, nem desejarei nunca, o poder absoluto, e hoje mesmo o rejeito; os sentimentos do meu coração repugnam ao despotismo, e à repressão, desejo sim a paz, a honra e a prosperidade da nação»; obedecei pois ao que vos proclama o nosso Augusto Monarca; reparai bem que vos recomenda a paz, e a honra: e para vos constituirdes dignos, como sempre fosteis, do honroso título de fiéis e leais angrenses, é preciso que guardeis a paz e sossego; e para manter esta é preciso não fazer partidos. Esquecei-vos de vinganças particulares; amai-vos mutuamente uns aos outros; dai uma demonstração sincera de que sois verdadeiros católicos romanos, fiéis portugueses: o nosso mesmo Augusto Monarca, o nosso amante pai, nos diz a todos: «que só se considera feliz quando tiver reunidos todos os portugueses; que se esqueçam das opiniões passadas, exigindo fidelidade no comportamento futuro.» Portanto, ó fiéis e leais angrenses, o nosso Monarca vos recomenda que nos esqueçamos do passado.

É um dever nosso, é um dever sagrado, respeitar e guardar e venerar a sua sábia e paternal determinação, guardando a paz entre todos, respeitando e obedecendo às autoridades, e proclamando sempre — Viva El-Rei nosso Senhor, o Senhor D. João VI; viva a casa de Bragança.

— Câmara de Angra, 3 de Julho de 1823. — Escrivão da Câmara, Manuel José Borges, que a escrevi — José da Costa Franco, presidente — Jerónimo Martins Pamplona — João Pedro Coelho Machado Fagundes de Melo — João Baptista de Bettencourt Vasconcelos Correia e Ávila — Luiz Pacheco de Lima Vasconcelos — Luiz José Coelho — José de Menezes Camelo — Manuel de Barcelos Machado — Manuel de Lima da Câmara — José Joaquim Teixeira — João Francisco de Valença, procurador dos mesteres — José Caetano Nunes, procurador dos mesteres — lugar do selo do concelho.