Culpa-se o amor de vário, e de inconstante, sendo que as mais das vezes seria maior a sua culpa, se fosse constante, e firme: o amor só quando deixa de amar se emenda, só quando é vário se justifica, e só quando é inconstante se desculpa: quando começa, parece que não é erro o amor; porque mal se pode evitar aquele primeiro instante que nos atrai; aquela primeira luz que nos assombra; aquele primeiro agrado que nos engana; o nosso arbítrio, ou a nossa reflexão, vêm depois, como remédio que sempre supõe sucedido o mal: não se pode fugir do raio despedido de uma nuvem; o amor ainda nos alcança com mais pressa, e mais vigor, porque é raio, que se forma dentro de nós mesmos: o valor consiste em arrancar a seta, por mais que fique despedaçado o peito.