A vaidade da fermosura é a mais natural de todas as vaidades, é vaidade inocente; a natureza em nada se recreia tanto, como em contemplar-se a si na sua obra, e em rever-se na sua mesma perfeição; por isso a fermosura é um encanto, a que não resiste, nem ainda quem o tem; ela a si mesma se namora, a si se busca, ama-se a si, e de si se rende; é como um efeito, que vem a retorquir-se contra a sua causa, ou contra o seu princípio; é como um movimento, que retrocede, e se dirige contra o seu mesmo impulso; a fermosura, pelo que sente sabe o que faz sentir; e pelo que se ama, conhece que se faz amar; daqui vem que a vaidade, e a altivez, são partes de que a fermosura se compõe; a mesma tirania, e rigor atrai; e que haverá na fermosura, que não sirva de laço, de prisão, de amor?