A vaidade é cheia de artifício, e se ocupa em tirar da nossa vista, e da nossa compreensão o verdadeiro ser das cousas, para lhes substituir um falso, e aparente. De que serve a púrpura, mais que de encobrir o homem a si mesmo, e uma figura simples, comua, e igual em todos, mostrá-la desfigurada, e outra debaixo de um véu puramente exterior? Tudo o que se esconde fica com carácter de mistério, e por isso com veneração, e com respeito, a vaidade foi o primeiro artífice, que inventou o distinguir os homens pela especialidade do ornato e pela singularidade da cor; assim são as distinções, que a vaidade nos procura; nenhuma é, nem pode ser em nós, mas nas cousas que nos cobrem.