Algumas dúvidas há que respeitamos; mas nem a essas perdoa a vaidade, pois nunca quer que fiquem indecisas, mas infelizmente, porque nelas sempre a solução da dúvida vem a consistir em outra dúvida maior. Quási tudo transcende à nossa compreensão, mas nada transcende à nossa vaidade. Naturalmente nos é odiosa a irresolução, e antes nos inclinamos a errar, do que a ficar irresolutos: o confessar ignorância é acto a que se opõe a vaidade, sendo que rara é a cousa, que se nos mostra, sem um certo véu que a esconde; de sorte que não vemos, nem buscamos os objectos, mas a sombra deles.