Não vivemos contentes, se a nossa vaidade não vive satisfeita: ainda temos o bem, que com pouco se alimenta a vaidade. Um riso agradável, que achamos nas pessoas eminentes, e que por mais, que seja equívoco, sempre a vaidade o interpreta a seu favor; um obséquio, que tem por princípio a dependência, e em que o interesse se esconde subtilmente; uma submissão, que nos faz crer que os homens têm obrigação de respeitar-nos; uma lisonja dita com tal arte, que fica sendo impossível, conhecermos-lhe o veneno; qualquer cousa destas, e ainda menos basta, para que a nossa vaidade se reveja, e se satisfaça; de sorte que não vivemos alegres, se não vivemos vaidosos.