Acabando tudo com a morte, só a desonra não acaba; porque o labéu ainda vive mais do que quem o padece: por mais insensível que esteja um cadáver na sepultura (permita-se o hipérbole) lá parece que a lembrança de uma infâmia, que existe na memória dos que ficam, lhe está animando as cinzas, para o fazer capaz de aflição, e sentimento: terrível qualidade, cujos efeitos, ou cujo mal, não se acaba, ainda depois que acaba quem o tem; sendo a única desgraça, que se imprime na alma, como um carácter imortal! A morte não serve de limite à desonra; porque esta vai seguindo a posteridade como uma herança bárbara, e infeliz. Estes são os pensamentos, que a vaidade nos inspira, e como uma paixão inconsolável, até nos persuade, que ainda depois de mortos podemos sentir a infâmia: esta diminui a estimação, e o respeito; e por isso mortifica tanto; como se a infâmia do delito só consistisse na atenção, e opinião dos homens, e não no delito mesmo; ou se só fosse desonra aquela que se sabe, e não aquela que se ignora.