Revista da Exposição Anthropologica Brazileira/J. Barbosa Rodrigues 17

FABRICO DE UMA MONTARIA
 

Em geral as montarias são feitas de itaúba (Acrodiclid. sp.), e demandam não pouco tralho e tempo, porque quem as faz não é artista, se bem que concluidas não deixem nada a desejar quanto á sua perfeição e qualidades nauticas. O constructor é sempre aquelle que precisa desse meio de conducção, e para isso o tapuyo dirige-se á floresta, derruba uma itaúba, madeira rija, como o seu nome o diz, itá, pedra, ybra, arvore, e em geral no proprio local da derrubada falquejam o madeiro, dão-lhe as fórmas externas que deve ter e depois de cavado, levam a um giráo, que serve de estaleiro, e, perfurado então em linhas parallelas, acabam de caval-o servindo os furos para por elles se introduzir uma taquarinha, que servindo de compasso, marca a espessura que deve ter a montaria depois de concluida.

Obtida a grossura desejada, fazem fogo dentro, ou em geral embaixo do giráo, e, emborcada a montaria, com o calor vai abrindo-se e toma a fórma adequada. Conservam-n’a aberta por meio de travéssas. Depois de fria pregam as cavernas, e as rodellas que fecham a prôa e a popa.

Quando porventura com o calor racha-se a madeira, calafetam com breu e estopa, assim como tapam os furos que fizeram para a medição. Construida assim uma canôa, zomba das tempestades e da quéda das cachoeiras.

 
J. Barbosa Rodrigues.

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